Costuma-se pensar, sobretudo em tradições ascéticas, que a sabedoria é fruto do isolamento — um dom reservado àqueles que se afastam do mundo e mergulham em si mesmos. O erro do monge, contudo, está em acreditar que o silêncio das montanhas é mais sábio que o clamor da vida. A experiência ensina que o saber genuíno não se encontra apenas na contemplação solitária, mas também — e talvez principalmente — na vivência do mundo, no contato direto com aquilo que é sensível, mutável, humano.
A sabedoria não brota exclusivamente da razão nem do sentimento. Ela nasce da união entre os dois: da interioridade refletida e da exterioridade vivida. A reflexão nos conduz ao invisível — às ideias, aos valores, aos princípios que não se tocam — enquanto o sentir nos confronta com o real, com o corpo, com o tempo, com a dor e o prazer. A sabedoria, nesse sentido, é uma ponte entre o espírito e a carne, entre o pensamento e a experiência.
Ignorar qualquer um desses polos é comprometer o crescimento. Sem reflexão, a vida se torna mera repetição; sem vivência, o pensamento se torna estéril. Por isso, não se alcança a sabedoria apenas olhando para dentro nem apenas se perdendo no mundo: ela emerge quando ambos os movimentos se encontram e se iluminam mutuamente.
Mas e Deus?, poderia alguém perguntar. Se afirmamos que a sabedoria exige experiência física, como compreender a sabedoria de Deus, que não possui corpo, nem sofre as contingências da matéria? A resposta não está na limitação de Deus, mas em sua completude anterior à criação. Deus não necessita experienciar o mundo fisicamente porque tudo já estava Nele antes de vir a ser. A totalidade do real — o que foi, o que é e o que será — já se encontrava contida em Seu ser, como causa e origem de todas as possibilidades.
Dante, em sua visão mística no Paraíso, descreve esse saber absoluto ao dizer:
"Em seu profundo eu vi como se interna, ligado com amor em um volume; aquilo que no universo se espalha: substâncias e acidentes e o costume quase conflados juntos, de tal modo que aquilo que eu digo é um simples lume."
Nesse “volume” divino, tudo o que se dispersa na existência — o que é essencial e o que é acidental, o que muda e o que permanece — aparece unido por um só ato de amor e de sabedoria. Assim, Deus não precisa aprender o mundo como nós: Ele o contempla desde dentro de Si mesmo, pois nele tudo já é.